O termo memória se refere ao processo mediante o qual adquirimos, formamos, conservamos e evocamos informação. A fase de aquisição e? comumente chamada “aprendizagem”, enquanto a evocação recebe também as denominações expressão, recuperação e lembrança.
O marco da neurobiologia do sono e sua relação com aprendizado e memória foi a descoberta da alteração das ondas cerebrais durante o sono, definidas por ondas eletroencefalográficas lentas (‘slow-wave sleep’, SWS) distribuídas na primeira metade da noite seguido ondas eletroencefalográficas rápidas e movimentos oculares involuntários (‘rapid-eye-movement sleep’, REM), representados no último terço do sono, período que acontecem os sonhos e a consolidação das memórias.
A partir dessa premissa, vários trabalhos destacaram que o sono, em especial o sono REM, produz reverberação de atividade neural em áreas cerebrais como o hipocampo, “porta de entrada” de todas as informações adquiridas pelo nosso cérebro preservando assim relações temporais dessas atividades ocorridas durante a vigília, ou seja, fixando o conteúdo aprendido antes do sono. Além disso, durante o sono REM aumenta-se a expressão de genes imediatos como o zif-268, que possui papel ativador da expressão das sinapsinas, proteínas constituintes mais abundantes nas sinapses com funções relacionadas ao “reforçamento sináptico”.
Paradoxalmente, a privação de sono, em especial do sono REM provoca diversas alterações cognitivas e comportamentais, hormonais e neuroquímicas, resultando em deteriorização da memória. Por fim, um recente trabalho publicado na conceituosa revista científica Nature Scientific Reports sobre os mecanismos neurocognitivos da consolidação da memória apresentou pela primeira vez que, além do sono, o aprendizado sucedido por um descanso, preferencialmente sem influências sensoriais como o “silêncio”, potencializa a consolidação, sobretudo dos detalhes finos de novas memórias.